Watchman Nee em seu livro "A vida cristã
normal" apresenta um estudo da Carta de Paulo aos Romanos.
Chamo a atenção para os capítulos 6,7 e 8 de
Romanos, ali aprendemos como se faz necessário que não só nossos pecados sejam
tratados, mas o pecador seja tratado. E aí que entra a cruz de Cristo. Não
somos pecadores porque cometemos pecados e sim pecamos por sermos pecadores. É
mais por constituição do que por ação. Há pecadores maus e pecadores bons,
pecadores morais e pecadores corruptos, mas todos são igualmente pecadores. O
problema não é no que fazemos, mas no que nós somos. A cruz nos liberta daquilo
que somos.Como ela atua?Explica Nee:
Há quatro condições ou passos que precisamos
entender claramente:
1o. Sabendo
2o. Considerando-nos
3o. Oferecendo-nos a Deus
4o. Andando no Espírito
Vamos ver cada um deles em sua ordem.
1) Sabendo
“...sabendo isto, que o nosso homem velho foi
crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não
servirmos mais ao pecado.” Rm6:6
Em primeiro lugar precisamos saber que fomos
crucificados com Cristo e para isso responderemos as seguintes perguntas:
- Quem foi crucificado
- Quando fomos crucificados
Sabendo isto estaremos eliminando o primeiro passo
ou condição para desfrutarmos daquilo que temos no Senhor e sermos vitoriosos
no Senhor.
a- Quem foi crucificado. Há muita confusão a esse
respeito pois alguns confundem o pecado com o velho homem, com o ego e etc.
Precisamos saber quem é o alvo da crucificação. A Palavra de Deus diz que o
pecado habita em nós (Romanos 7:20). Paulo fala isso no tempo presente
demonstrando que ele, mesmo sendo um discípulo, tinha “o pecado”. Portanto, por
eliminação, vemos que o pecado não é crucificado. Quem então é crucificado? É o
empregado do pecado que é crucificado e esse empregado é o velho homem. O
próprio texto diz isso: sabendo isto que o nosso velho homem foi crucificado
com Ele. (v 6) E ainda mais: para que o corpo do pecado fosse desfeito.(v 6b).
Veja que o alvo não é o pecado como princípio ativo produtor de pecados e sim o
servo do pecado que é o velho homem. O que é o velho homem? Quando não
conhecíamos o Senhor não nos preocupávamos se estávamos agradando ou não a
Deus; não fazia, para nós, a menor diferença se o que fazíamos agradava ou ofendia
a Deus. Esse é o velho homem em quem o pecado tinha toda liberdade de agir.
Esse é o alvo da crucificação.
b- Quando fomos crucificados. Esse ponto é chave
para alicerçarmos nossa fé no Senhor. Primeiramente precisamos entender que a
cruz é um instrumento de morte. Ninguém sai vivo da cruz; quando se passa pela
cruz se tem a certeza que tal pessoa jamais viverá. O versículo diz que fomos
crucificados e não que seremos crucificados. Portanto já sabemos que, pela
Palavra, foi no passado. Porém quando no passado? O mesmo capítulo de Romanos
diz: Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus
fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na
morte, 6:3,4. Fomos mortos no batismo! A cruz é um instrumento de morte e ela
operou no batismo. Não podemos deixar de saber disso. Esse foi um momento
crucial de nossa vida com Deus, por isso não podemos deixar de encarar com
seriedade.
Muitos, por não saberem disso ficam pedindo
continuamente para que Deus os coloque na cruz. Objetivamente isso já ocorreu.
Nosso velho homem foi crucificado para que andemos nós também em novidade de
vida v.4b. É claro que há um outro aspecto da cruz descrita por Jesus que é
subjetiva, mas isso veremos mais adiante.
2) Considerando-se
"Assim também vós considerai-vos como mortos
para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus." Rm6:11
Veja que estamos seguindo a ordem natural do
capítulo seis de Romanos, onde vemos que primeiro precisamos saber para depois
considerar-nos. Infelizmente, quando se trata desse assunto a ênfase é no
considerar sem ver que há uma ordem no texto: primeiro SABER depois CONSIDERAR.
Não adianta ficarmos declarando para nós mesmos que estamos crucificados se não
soubermos que isso já aconteceu; considerar-se não é isso. O que é então
considerar?
Considerar é:
a) No grego é atribuir, imputar, dando a idéia de
fazer as contas. Portanto entendemos que, de maneira exata, não precisamos só
saber, mas temos que tomar uma atitude e essa atitude é de considerar que a
nossa inclusão na crucificação de Jesus é um fato verdadeiro. Nunca olhar para
nós mesmos, mas para o que Cristo fez por nós em nossa inclusão nEle.
b) Ter fé prática. Aplicar o que sabemos acerca de
nossa crucificação, crendo diariamente nisso e não dando ouvidos aos sussurros
acusadores do diabo.
Vamos sempre lembrar que não estamos lidando com
promessas e sim com fatos. As promessas de Deus nos são reveladas pelo
Espírito, afim de que nos apropriemos delas; os fatos, porém, permanecem fatos,
quer creiamos neles ou não. Qualquer coisa que contradiga a Palavra de Deus
deve ser considerada mentira do diabo. Estamos, pelo batismo, mortos em Cristo,
quer sintamos ou não.
3) Apresentando-nos
"Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo
mortal, para obedecerdes às suas concupiscências; nem tampouco apresenteis os
vossos membros ao pecado como instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-vos a
Deus, como redivivos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus, como
instrumentos de justiça." Rm6:12,13
Agora, na mesma seqüência do capítulo seis de
Romanos, estamos no terceiro passo que é apresentar-nos. Quando realmente
sabemos que fomos crucificados com Ele, então espontaneamente me considero
morto (vs. 6 e 11) e quando sei que ressuscitei com Ele de entre os mortos
então considero-me vivo para Deus em Cristo Jesus (vs. 9 e 11). Quando chegamos
então a esse ponto podemos então apresentar os nossos membros como instrumento
de justiça. Deus não aceita a consagração da velha natureza. Nada que venha de
Adão é aceitável a Deus, porém agora temos uma outra natureza e é essa que eu
apresento a Deus como rediviva dentre os mortos.
O que é, basicamente, apresentar-nos?
a) Ser separado para o Senhor. Quando algo era
consagrado no AT não podia mas ser usado para nada a não ser para o Senhor.
Nossas mãos não nos pertencem, nossos pés não podem andar para onde eu quero
porque não são meus, são instrumentos de justiça.
b) Pois assim como apresentastes os vossos membros
como servos da impureza e da iniqüidade para iniqüidade, assim apresentai agora
os vossos membros como servos da justiça para santificação. Romanos 6:19
Apresentar-se é a verdadeira santificação no sentido objetivo. Deve ser um ato
inicial e fundamental, feito na porta. Depois, dia a dia, devemos prosseguir,
dando-nos a Ele, sem nos queixar do uso que Ele faz de nós, mas aceitando, com
grato louvor, mesmo aquilo contra o qual a carne se revolta. Esse é o caminho
da cruz.
Vamos, então, ter essa atitude diária de
oferecer-nos a Deus como redivivos dentre os mortos.
4) O Andar no Espírito
"Porquanto o que era impossível à lei, visto
que se achava fraca pela carne, Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança
da carne do pecado, e por causa do pecado, na carne condenou o pecado, para que
a justa exigência da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne,
mas segundo o Espírito. Pois os que são segundo a carne inclinam-se para as
coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito.
Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e
paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é
sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser;" Rm8:3-7
"E não vos embriagueis com vinho, no qual há
devassidão, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós em salmos, hinos, e
cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração, sempre
dando graças por tudo a Deus, o Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo,
sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo." Ef5:18-21
Portanto quando somos cheios do espírito podemos,
com maior tranqüilidade sabermos que estamos descansando nEle e que assim
andamos no Espírito. E já sabemos qual é o fruto de tudo isso.
"Digo, porém: Andai pelo Espírito, e não
haveis de cumprir a cobiça da carne. Porque a carne luta contra o Espírito, e o
Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o
que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei. Mas
o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a
bondade, a fidelidade, a mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não
há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e
concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito”Gl
5:16-18; 22-25
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