Início da Apostila de Fundamentos da Fé Cristã...um material resumido com teologia de doutrinas bíblicas para auxiliar o melhor entendimento do Cristianismo.
Capítulo 1 : A Doutrina da Palavra de Deus
A Bíblia, palavra de Deus, não é um livro
qualquer. A origem dela está em Deus, que falou através de homens separados
para registrar sua Palavra. O Espírito
Santo habitou em certos homens, inspirou-os, e assim dirigiu-os que eles, em
plena consciência, expressaram-se na sua singular maneira pessoal. O Espírito
capacitou homens a conhecer e expressar a verdade de Deus. Ele impediu-os de
incluir qualquer coisa que fosse contrária a essa verdade de Deus. Ele também
impediu-os de escrever coisa que não eram necessárias. Assim, homens escreveram
como homens, mas, ao mesmo tempo, comunicaram a mensagem de Deus, não a do homem
.
Essa compreensão, que advém das próprias Escrituras, caracteriza
distintamente o cristianismo: os profetas não falaram aleatoriamente o que
pensavam; antes, “testificaram a verdade de que era a boca do Senhor que falava
através deles” [3]. Sobre essa questão Calvino declarou:
Eis aqui o principio que distingue nossa religião de todas as
demais, ou seja: sabemos que Deus nos falou e estamos plenamente convencidos de
que os profetas não falaram de si próprios, mas que, como órgãos do Espírito
Santo, pronunciaram somente aquilo para o qual foram do céu comissionados a
declarar. Todos quantos desejam beneficiar-se das Escrituras devem antes
aceitar isto como um principio estabelecido, a saber: que a lei e os profetas
não são ensinos passados adiante ao bel-prazer dos homens ou produzidos pelas
mentes humanas como uma fonte, senão que foram ditados pelo Espírito Santo [4].
Nas Escrituras temos todos os livros que Deus quis que fossem
preservados para nossa edificação:
Aquelas [epístolas] que o Senhor quis que fossem indispensáveis à
sua Igreja, Ele as consagrou por sua providência para que fossem perenemente
lembradas. Saibamos, pois, que o que foi deixado nos é suficiente, e que sua
insignificância não acidental; senão que o cânon das Escrituras, o qual se
encontra em nosso poder, foi mantido sob controle através do grandioso conselho
de Deus .
Que
significa então a frase “a Palavra de Deus”? Na verdade, há vários significados
que essa frase assume na Bíblia. Vale a pena distinguir claramente esses
diferentes sentidos no começo deste estudo.
A. “A Palavra De Deus” Como Pessoa:
Jesus Cristo
Às vezes a Bíblia refere-se ao Filho de Deus como “a Palavra
de Deus”. Em Apocalipse 19.13, João vê o Senhor Jesus ressurreto no céu e diz:
“Está vestido com um manto tingido de sangue, e o seu nome é a Palavra de Deus”
(nvi). De modo semelhante, no
começo do Evangelho de João lemos: “No princípio era a Palavra, e a Palavra
estava com Deus, e a Palavra era Deus” (Jo 1.1, nvi).
É claro que João está falando aqui do Filho de Deus, porque no versículo 14
diz: “A Palavra tornou-se carne e viveu entre nós.
B. “A Palavra de Deus” como
comunicação verbal de Deus
1. Os decretos de Deus.
Às vezes as palavras de Deus tomam a forma de decretos
poderosos que causam eventos ou até mesmo trazem coisas à existência. “Disse
Deus: Haja luz; e houve luz” (Gn 1.3). Deus criou ainda o mundo animal
proferindo sua poderosa palavra: “Produza a terra seres viventes, conforme a
sua espécie: animais domésticos, répteis e animais selváticos, segundo a sua
espécie. E assim se fez” (Gn 1.24). Por isso, o salmista pode dizer: “Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo
sopro de sua boca, o exército deles” (Sl 33.6).
2. Palavras de Deus de aplicação
pessoal.
Deus às vezes se comunica com pessoas sobre a terra falando
diretamente a elas. Esses casos são exemplos de Palavra de Deus de aplicação pessoal e encontram-se através
das Escrituras. Bem no início da criação, Deus diz a Adão: “E o Senhor Deus lhe deu essa ordem: De toda
árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do
mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn
2.16-17).
3. Palavras de Deus comunicadas por
lábios humanos.
Com freqüência nas Escrituras Deus levanta profetas para
falar por meio deles. De novo, é evidente que embora sejam palavras humanas,
faladas em linguagem humana comum por seres humanos comuns, sua autoridade e
veracidade não sofrem nenhuma redução; ainda são inteiramente palavras de Deus.
4. Palavras de Deus em forma escrita
(a Bíblia).
Além das palavras de Deus em
forma de decreto, das palavras de Deus de aplicação pessoal e das palavras de
Deus comunicadas por lábios humanos, também encontramos nas Escrituras várias
situações em que as palavras de Deus são colocadas em forma escrita. Deus é o Autor da
Escrituras. Mesmo a Bíblia sendo registrada por homens, falando do pecado do
homem, descrevendo a desobediência circunstancial de seus autores secundários,
ela é prioritariamente um livro divino.
Paulo diz que “toda Escritura é inspirada
por Deus” (2 Tm 3.16), indicando a sua procedência: toda a Escritura Sarada é
soprada, exalada por Deus. Esta Palavra não foi apenas entregue aos homens, mas
foi preservada por Deus; Deus preservou ao seu registro e quanto à sua
conservação.
C. O ponto de convergência do nosso
estudo
De todas as formas da Palavra de Deus, o ponto de convergência de nosso estudo é a
Palavra de Deus em forma escrita, isto é, a Bíblia. Essa é a forma da Palavra
de Deus disponível para estudo, pesquisa pública, exame repetido e como base
para discussão uns com outros. Ela nos fala sobre a Palavra de Deus e para ela
nos conduz como a uma pessoa, ou seja, Jesus Cristo, a quem não temos agora em
forma corpórea sobre a terra e cuja vida e ensino, por conseguinte, não somos
capazes de observar nem de imitar de primeira mão.
“Como é feliz aquele que não segue o
conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda
dos zombadores! Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei
medita dia e noite.” Salmos
1:1-2
D- Ficamos convencidos das declarações da
Bíblia de ser a Palavra de Deus à medida que a lemos.
Uma coisa é afirmar que a Bíblia alega ser
as palavras de Deus; outra coisa é ser convencido de que essa alegação é
verdadeira. Nossa convicção suprema de que as palavras da Bíblia são palavras
de Deus vem somente quando o Espírito Santo fala em e por meio das palavras da
Bíblia ao nosso coração e nos dá a certeza interior de que essas são as
palavras do Criador para nós. Sem a obra do Espírito de Deus, a pessoa nunca
receberá ou aceitará a verdade de que as palavras da Bíblia são de fato a
Palavra de Deus.
Mas para aqueles em quem o Espírito de Deus
está operando, há o reconhecimento de que as palavras da Bíblia são as palavras
de Deus. Esse processo é intimamente análogo ao qual as pessoas que criam em
Jesus sabiam que as palavras dele eram verdadeiras. Ele disse: “As minhas
ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10.27). Os que
são ovelhas de Cristo ouvem as palavras de Cristo, o grande Pastor delas, da
mesma maneira que lêem as palavras da Escritura, e se convencem de que essas
palavras são, de fato, as palavras do seu Senhor.
É importante lembrar que essa convicção de
que as palavras da Escritura são as palavras de Deus não vem separada das
palavras da Escritura ou em acréscimo às palavras da Escritura. Não é que o
Espírito Santo cochiche em nosso ouvido, dizendo: ”Você vê aquela Bíblia sobre
a sua escrivaninha? Eu quero que você saiba que as palavras daquela Bíblia são
as palavras de Deus”. Ao contrário, enquanto as pessoas lêem a Escritura é que
percebem que o livro que estão lendo é diferente de qualquer outro livro, que
ele é de fato o livro que contém as próprias palavras de Deus falando ao
coração delas.
E- As qualidades morais e espirituais
necessárias para o entendimento correto.
Os escritores do NT muitas vezes afirmam
que a capacidade de entender a Escritura corretamente é mais uma capacidade
moral e espiritual que intelectual: “Quem não tem o Espírito não aceita as
coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de
entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente” (1 Co 2.14; cf.
1.18—3.4; 2Co 3.14-16; 4.3,4,6; Hb 5.14; Tg 1.5,6; 2Pe 3.5; cf. Mc 4.11,12; Jo
7.17; 8.43). Assim, embora os autores do NT afirmem que a Bíblia em si mesma
seja escrita com clareza, eles também afirmam que ela não será entendida
corretamente por aqueles que não estão desejosos de receber seus ensinos. A
Escritura é capaz de ser entendida por todos os descrentes que vão lê-la
sinceramente buscando salvação e pelos crentes que a lerão procurando a ajuda
de Deus para entendê-la. Isso acontece porque, em ambos os casos, o Espírito
Santo opera vencendo os efeitos do pecado, que de outra forma fariam a verdade
parecer tolice (lCo 1.18-25; 2.14; Tg 1.5,6,22-25).
A Bíblia foi escrita de tal modo que todas
as coisas necessárias para a salvação e para nossa vida cristã e nosso
crescimento são muito claramente demonstradas na Escritura. Embora certos
teólogos já tenham definido a clareza da Escritura de modo mais estrito
(dizendo, por exemplo, que ela é clara somente no ensino do caminho da
salvação), os textos citados anteriormente aplicam—se a muitos aspectos
diferentes do ensino bíblico e não parecem dar apoio a tal limitação às áreas
em que se considera que ela fala claramente. Parece mais fiel aos textos
bíblicos citados definir a clareza da Escritura do seguinte modo: A clareza da
Escritura significa que a Bíblia foi escrita de tal modo que seus ensinos são
passíveis de ser entendidos por todos que a lêem procurando pela ajuda de Deus
e que estão desejosos de recebê-la. Uma vez que afirmemos isso, contudo,
devemos também reconhecer que muitas pessoas, mesmo as do povo de Deus, ainda
compreendem erroneamente a Escritura.
F- Atibutos da Bíblia: Os principais ensinos da Bíblia a seu próprio respeito podem
ser classificados em quatro características (às vezes chamadas atributos):
(1) a autoridade das Escrituras;
(2) a clareza das Escrituras;
(3) a necessidade das Escrituras;
(4) a suficiência das Escrituras.
1-Autoridade
das Escrituras: A autoridade das
Escrituras significa que todas as palavras nas Escrituras são palavras de Deus,
de modo que não crer em alguma palavra da Bíblia ou desobedecer a ela é não
crer em Deus ou desobedecer a ele.
2- Clareza das Escrituras : Para
resumir essa matéria bíblica, podemos afirmar que a Bíblia é escrita de forma
tal que todas as coisas necessárias para nossa salvação e para nossa vida e
crescimento cristão encontram-se bem claramente expostas nas Escrituras. Embora
os teólogos às vezes definam a clareza das Escrituras de modo mais estreito
(dizendo, por exemplo, apenas que as Escrituras são claras no ensino do caminho
da salvação), os muitos textos citados acima se aplicam a vários aspectos
diferentes do ensino bíblico e não parecem sustentar nenhuma limitação com
relação a temas sobre os quais se pode dizer que as Escrituras não falam
claramente. A doutrina da clareza
da Escritura tem uma implicação prática muito importante e extremamente
encorajadora. Ela nos diz que onde há áreas de discordância doutrinária ou
ética (por exemplo, sobre o batismo, predestinação ou governo da igreja), há
somente duas causas possíveis de discordância: 1) De um lado, pode ser que
estejamos procurando fazer afirmações onde a Escritura silencia. Em tais casos,
devemos estar mais preparados para admitir que Deus não tem dado resposta à
nossa investigação e permitir que haja diferentes perspectivas dentro da
igreja. (Esse muitas vezes é o caso com respeito a diversas questões práticas,
como métodos de evangelização, estilos de ensino bíblico ou tamanho apropriado
de igreja). 2) De outro lado, é possível que tenhamos cometido erros em nossa
interpretação da Escritura. Isso pode ter acontecido porque os dados que usamos
para decidir uma questão de interpretação foram inexatos ou incompletos. Ou
isso se deve a algumas insuficiências pessoais de nossa parte, como orgulho
pessoal, avidez, falta de fé, egoísmo, ou mesmo falha em dedicar tempo
suficiente à leitura e estudo da Escritura acompanhados de oração.
Mas em nenhum caso somos livres para dizer
que o ensino da Bíblia sobre qualquer assunto seja confuso ou não seja passível
de ser entendido corretamente. Em nenhum caso devemos pensar que as
discordâncias persistentes sobre algum assunto no decorrer da história da
igreja signifiquem que não sejamos capazes de chegar à conclusão correta sobre
a questão. Antes, se a preocupação genuína a respeito de tal assunto surge em
nossa vida, devemos sinceramente buscar a ajuda de Deus e, então, ir à
Escritura, pesquisando com toda a nossa aptidão, crendo que Deus irá nos
capacitar para termos o entendimento correto.
3- Necessidade das Escrituras: A
necessidade da Escritura pode ser definida do seguinte modo: A necessidade da
Escritura significa que a Bíblia é necessária para o conhecimento do evangelho,
para a manutenção da vida espiritual e para certo conhecimento da vontade de
Deus, mas não é necessária para saber que Deus existe ou para saber algo a
respeito do caráter de Deus e das leis morais.Essa
definição pode agora ser explicada em suas várias partes.
3.1- A Bíblia é necessária para o conhecimento do
evangelho.
Em Romanos 10.13,14,17, Paulo diz:
“...porque ‘todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo’. Como, pois,
invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram
falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue? [...] Conseqüentemente, a fé
vem por se ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de
Cristo”
3.2- A Bíblia é necessária para a manutenção da vida espiritual.
Jesus diz em Mateus 4.4 (citando Dt
8.3) que “nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca
de Deus”. Aqui Jesus indica que nossa vida espiritual é mantida pela nutrição
diária com a Palavra de Deus, exatamente como nossa vida física é mantida pela
nutrição diária com comida física. Negligenciar a leitura regular da Palavra de
Deus é prejudicial para a saúde de nossa alma, como negligenciar a comida
física é prejudicial para a saúde de nosso corpo.
3.3- A Bíblia é necessária para o conhecimento seguro da vontade de Deus.
Será argumentado adiante que todas as
pessoas nascidas possuem algum conhecimento da vontade de Deus por meio de sua
consciência. Mas esse conhecimento é muitas vezes indistinto e não pode
comunicar certeza. De fato, se não houvesse nenhuma Palavra de Deus escrita,
não poderíamos nunca adquirir certeza a respeito da vontade de Deus por outros
meios, como o conselho de outros, o testemunho interno do Espírito Santo,
circunstâncias mudadas e o uso do raciocínio santificado e do senso comum.
Esses meios todos poderiam dar uma aproximação da vontade de Deus de modo mais
ou menos confiável, mas somente por intermédio deles nenhuma certeza da vontade
de Deus poderia ser obtida, ao menos no mundo decaído onde o pecado distorce a
nossa percepção do que é certo e do que é errado, conduz ao raciocínio errôneo
em nosso processo de pensamento e suprime de vez em quando o testemunho de
nossa consciência (cf. Jr 17.9; Rm 2.14,15; lCo 8.10; Hb 5.14; 10.22; v. tb.
lTm 4.2; Tt 1.15).
3.4- Mas a Bíblia não é
necessária para se saber que Deus existe ou para saber algo a respeito do
caráter de Deus e das leis morais.
Que dizer de pessoas
que não lêem a Bíblia? Elas podem obter algum conhecimento de Deus? Elas podem
conhecer certas coisas a respeito de suas leis? Sim, é possível algum
conhecimento de Deus sem a Bíblia, mesmo que não seja um conhecimento seguro.
É uma revelação geral,pessoas podem
obter o conhecimento de que Deus existe e de alguns de seus atributos
simplesmente por observar a si mesmas e ao mundo que as rodeia. Davi diz: “Os
céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos” (Sl
19.1). Olhar para o céu significa ver a evidência do infinito poder, sabedoria
e mesmo beleza de Deus; significa observar o testemunho majestoso da glória de
Deus. O fato de que todas as pessoas conhecem alguma coisa das leis
morais de Deus é uma grande bênção para a sociedade, pois sem elas não haveria
restrição social à prática do mal que as pessoas cometeriam nem refreamento
vindo de suas consciências. Porque há algum conhecimento comum do certo e do
errado, os cristãos podem muitas vezes estabelecer grande consenso com os
não-cristãos em matéria da lei civil, padrões de comunidade, ética básica de
negócios e de atividade profissional, além de padrões de conduta aceitáveis na
vida cotidiana. O conhecimento da existência e do caráter de Deus também
proporciona uma base de informação que capacita o evangelho a fazer sentido
para o coração e a mente do não-cristão; os descrentes sabem que Deus existe e
que eles quebraram os seus padrões, de modo que as novas de que Cristo morreu
para pagar por seus pecados deveriam soar verdadeiramente como boas novas para
eles.
Já uma Revelação
especial é necessária para a
salvação. Contudo, deve ser enfatizado que em nenhum lugar a Escritura indica
que as pessoas podem conhecer o evangelho, ou o caminho da salvação, por meio
da revelação geral. Elas podem saber que Deus existe, que ele as criou, que
elas lhe devem obediência e que elas pecaram contra ele. Mas como a santidade e
a justiça de Deus podem ser conciliadas com o seu desejo de perdoar pecados é
um mistério que nunca foi resolvido por religião alguma à parte da Bíblia. Nem
a Bíblia nos dá qualquer esperança de que tal mistério possa ser desvendado
independentemente da revelação específica de Deus. É uma grande maravilha de
nossa redenção que o próprio Deus tenha providenciado o caminho de salvação por
enviar o próprio Filho, que é tanto Deus como homem, para ser o nosso
representante e suportar a penalidade de nossos pecados, combinando dessa forma
a justiça e o amor de Deus de modo infinitamente sábio e por meio de um ato
maravilhosamente gracioso. Esse fato, que parece lugar-comum aos ouvidos do
cristão, não deveria perder o seu encanto para nós: ele nunca poderia ter sido
concebido somente pelo homem independentemente da revelação verbal e especial
de Deus.
4-
Suficiência das Escrituras: Podemos definir assim suficiência das Escrituras: dizer que
as Escrituras são suficientes significa dizer que a Bíblia contém todas as
palavras divinas que Deus quis dar ao seu povo em cada estágio da história da
redenção e que hoje contém todas as palavras de Deus que precisamos para a
salvação, para que, de maneira perfeita, nele possamos confiar e a ele
obedecer.
A explicação e o apoio bíblico
significativos para essa doutrina são encontrados nas palavras de Paulo a
Timóteo: “Porque desde criança você conhece as Sagradas Letras, que são capazes
de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus” (2Tm 3.15).O
contexto mostra que “as Sagradas Letras” aqui significam as palavras escritas
na Escritura (2Tm 3.16). Isso é a indicação de que as palavras de Deus que temos
na Escritura são todas as palavras de Deus de que precisamos a fim de que
sejamos salvos; essas palavras são capazes de nos tornar sábios “para a
salvação”.
Outras passagens indicam que a
Bíblia é suficiente para equipar-nos para viver a vida cristã. Em Salmos 119.1
afirma-se: “Como são felizes os que andam em caminhos irrepreensíveis, que
vivem conforme a lei do SENHOR!”. Esse versículo mostra a equivalência entre
ser irrepreensível e “viver conforme a lei do SENHoR”; os irrepreensíveis são
os que andam na lei do Senhor. Aqui temos a indicação de que tudo o que Deus
requer de nós está registrado na Palavra escrita. Simplesmente fazer tudo o que
a Bíblia ordena é ser irrepreensível à vista de Deus. Mais tarde lemos que um
jovem pode “manter pura a sua conduta”. Como? “Vivendo de acordo com a tua
palavra” (Sl 119.9). Paulo diz que Deus deu a Escritura a fim de que o homem de
Deus fosse “plenamente preparado para toda boa obra” (2Tm 3.17).
G- A Centralidade
de Palavra
A Bíblia
ocupa o centro do culto, pois é através dela que Deus nos fala. Calvino
afirmou: "... a função peculiar do Espírito Santo consiste em gravar a Lei
de Deus em nossos corações". A Igreja é a "escola de Deus". O
Espírito é o "Mestre"(o “Mestre interior”). Para progredir nessa
escola, “...devemos antes renunciar nosso próprio entendimento e nossa própria
vontade”.
A pregação
não deve ser rejeitada (lTs 5:19-21); deve ser entendida como a Palavra de Deus
para nós; recusá-la é o mesmo que rejeitar o Espírito (cf. lTs 4:8). O pregador
não "compartilha" opiniões nem dá "opiniões" sobre o texto
bíblico, nem faz paráfrase irreverente do texto. O objetivo é expressar o que
Deus disse sob a iluminação do Espírito. Pregar é explicar e aplicar a Palavra
aos ouvintes. O aval de Deus não é sobre nossas teorias e escolhas, nem sobre a
"graça" de piadas, mas sobre sua Palavra. Portanto, o pregador prega
o texto, de onde provém a verdade de Deus para o seu povo. "Quando nos
propomos a expor um texto, precisamos declarar exatamente o que o texto afirma.
A pregação foi o meio deliberadamente
escolhido por Deus para transformar pessoas e edificar seu povo, preservando a
sã doutrina através da Igreja, que é o baluarte da verdade.
H- Antigo
e Novo testamento – Alianças distintas
A estrutura do relacionamento que Deus
estabeleceu com seu povo é a aliança. O primeiro
elemento dessa aliança bíblica é o preâmbulo, o qual relaciona as
respectivas partes. Êxodo 20.2 começa com a frase: "Eu sou o Senhor, teu
Deus". Deus é o suserano; o povo de Israel é o vassalo. O segundo elemento
é o prólogo histórico. Esta seção relaciona o que o suserano (ou Senhor) fez
para merecer a lealdade - como livrou os israelitas da escravidão do Egito. Em
termos teológicos, esta é a seção da graça.
Na seção seguinte, o Senhor relaciona o que ele requer daqueles
sobre quem governa. Em Êxodo 20, são os Dez Mandamentos. Cada um dos
mandamentos era considerado um compromisso moral sobre toda a comunidade da
aliança.
A parte final desse tipo de aliança relaciona as bênção e as
maldições. O Senhor faz uma lista dos benefícios que concederá aos vassalos se
eles seguirem as estipulações da aliança. Um exemplo disso se encontra no
quinto mandamento. Deus prometeu aos israelitas que seus dias seriam longos na
Terra Prometida, se honrassem os pais. A aliança também apresenta maldições que
sobreviriam se o povo não cumprisse com suas responsabilidades. Deus adverte
Israel que não os considerava como inocentes se falhassem em honrar seu nome.
Esse padrão básico fica evidente nas alianças de Deus com Adão, Noé, Abraão,
Moisés e a aliança de Jesus Cristo com sua Igreja.
Nos tempos bíblicos, as alianças eram ratificadas com sangue. No
antigo testamento, velha aliança, era costume que ambas as partes que estavam
entrando em aliança passassem entre as partes de um animal esquartejado,
representando assim sua concordância com os termos da aliança (ver Jr 34.18).
Temos um exemplo desse tipo de aliança em Gênesis 15-7--21. Nesse texto, Deus
fez certas promessas a Abraão, as quais foram ratificadas por meio de sacrifício
de animais. Nesse caso, porém, somente Deus passou entre as partes dos animais,
indicando por meio de um juramento solene que estava se comprometendo a cumprir
a aliança.
A nova aliança, a aliança da graça, descrita no Novo testamento, foi
ratifica pelo derramamento do sangue de Cristo na cruz. No âmago desta aliança,
está a promessa divina de redenção. Deus não só prometeu redimir todo aquele
que põe sua confiança em Cristo, mas selou e confirmou a promessa com o mais
santo dos votos. Servimos e adoramos um Deus que se comprometeu para a nossa
completa redenção.
Conclusão
Nós somos herdeiros do Reino de Deus, logo
a Palavra de Deus é a fonte
autoritativa de Deus para o nosso pensar, crer sentir e agir: A Palavra de Deus
é-nos suficiente.
Quando Satanás tentou a Jesus durante
os seus 40 dias de jejum e oração no deserto, dizendo: “Se és Filho de Deus,
manda que estas pedras se transforme em pães” (Mt 4.3), Jesus
Cristo, recorrendo ao Livro de Deuteronômio, capítulo 8, verso 3, respondeu: “
Não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede de Deus” (Mt
4.4). Notemos que esta afirmação torna-se ainda mais dramática se consideramos
o fato de que Jesus estava à beira da inanição, sendo induzido a pensar que
caso não comesse imediatamente poderia morrer.
Nestas palavras, não temos um
contraste entre o espiritual e o físico, antes; há uma demonstração categórica,
feita por Cristo, de que devemos ter me mente que a nossa sustentação, em todos
os sentidos, provém de Deus: Somos sustentados pela Palavra de Deus. O mesmo
Espírito que nos regenerou através da Palavra (Tg 1.18; 1Pe 1.23), age mediante
esta mesma Palavra, para que vivamos, de fato, como novas criaturas que somos.
A Bíblia é o instrumento eficaz do Espírito, porque ela foi inspirada pelo
Espírito Santo (2Pe 1.21).
Jesus orou ao Pai para que ele nos
santificasse na Verdade, que é a sua Palavra. Meus irmãos, se quisermos crescer
espiritualmente temos de recorrer à Palavra vivificada de Cristo; somente ela
pode nos tornar sábios para a Salvação mediante a fé depositada unicamente em
Jesus Cristo (2 Tm 3.15). Com este propósito ela foi-nos concedida (Rm 15.4).
Você aceita a autoridade das
Escrituras? Quando sua opinião sobre determinado tema é uma e a posição da
Bíblia é outra, com qual você fica?
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