Capítulo 2: A
Natureza e os Atributos de Deus
2.1- A Existência de Deus
“Como sabemos que Deus existe? A resposta pode ser dada em
duas partes: primeira, todas as pessoas têm uma intuição íntima de Deus.
Segunda, cremos nas provas encontradas nas Escrituras e na natureza”.
Todas as pessoas de qualquer lugar têm uma profunda intuição
íntima de que Deus existe, de que são criaturas de Deus e de que ele é seu
Criador. Paulo diz que mesmo os gentios descrentes tinham “conhecimento de
Deus”, mas não o honravam como Deus nem lhe eram gratos (Rm 1.21).
Na vida do cristão essa íntima consciência de Deus se torna
mais forte e mais distinta.
Além da consciência íntima de Deus, que dá claro testemunho
do fato de que ele existe, encontramos claras evidências da sua existência nas
Escrituras e na natureza.
As provas de que Deus existe se encontram, logicamente,
disseminadas por toda a Bíblia. De fato, a Bíblia sempre pressupõe que Deus
existe.
Além das provas encontradas na existência dos seres humanos,
há outra excelente evidência na natureza. Quem olha para o céu, de dia ou de
noite, vê o sol, a lua e as estrelas, o firmamento e as nuvens, todos
declarando continuamente pela sua existência, beleza e grandeza que foi um
Criador poderoso e sábio quem os fez e os sustém na sua ordem.
2.2- A Cognoscibilidade
(Conhecimento) de Deus
Se pretendemos conhecer a Deus, antes é necessário que ele se
revele a nós. Paulo diz que o que podemos conhecer sobre Deus está claro às
pessoas “porque Deus lhes manifestou”
(Rm 1.19).
Quando falamos do conhecimento pessoal de Deus, que vem pela
salvação, essa idéia fica ainda mais explícita. Disse Jesus: “Ninguém conhece o
Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”
(Mt 11.27).
A necessidade de Deus revelar-se a nós também se percebe no
fato de que o pecador interpreta erroneamente a revelação de Deus encontrada na
natureza. Portanto, precisamos das Escrituras para interpretar corretamente a
revelação natural. Por conseguinte, dependemos da ativa comunicação divina nas
Escrituras para alcançar verdadeiro conhecimento de Deus.
Como Deus é infinito, e nós, finitos e limitados, jamais
poderemos compreender plenamente e exaustivamente a Deus. Diz o salmo 145:
“Grande é o Senhor e mui digno de
ser louvado; a sua grandeza é insondável”
(Sl 145.3). Jamais seremos capazes de medir ou conhecer plenamente o
entendimento de Deus: é imenso demais para que o igualemos ou entendamos.
Assim, podemos conhecer algo
do amor, do poder, da sabedoria, etc., de Deus. Mas jamais poderemos conhecer
completa ou exaustivamente o seu
amor. Jamais poderemos conhecer exaustivamente o seu poder. Jamais poderemos
conhecer exaustivamente a sua sabedoria, etc.
Embora não possamos conhecer exaustivamente a Deus, podemos
conhecer coisas verdadeiras sobre
ele. De fato, tudo o que as Escrituras
nos falam sobre Deus é verdadeiro. É verdade dizer que Deus é amor (1Jo
4.8), que Deus é luz (1Jo 1.5), que Deus é espírito (Jo 4.24), que Deus é justo
ou reto (Rm 3.26) e assim por diante. Podemos conhecer alguns pensamentos de
Deus — até muitos deles — com base na Bíblia, e quando os conhecemos, como
Davi, os consideramos “preciosos” (Sl 139.17).
O fato de conhecermos o próprio Deus é demonstrado ainda pela
percepção de que a riqueza da vida cristã envolve um relacionamento pessoal com
Deus. Falamos com Deus em oração, e ele fala conosco pela sua Palavra. Temos
comunhão com ele na sua presença, entoamos seus louvores e temos consciência de
que ele pessoalmente habita no meio de nós e dentro de nós para nos abençoar
(Jo 14.23). De fato, pode-se dizer que esse relacionamento pessoal com Deus
Pai, com Deus Filho e com Deus Espírito Santo é a maior de todas as bênçãos da
vida cristã.
2.3- O Caráter de Deus: Atributos
“Incomunicáveis”
Quando falamos sobre o caráter de Deus, percebemos que não
podemos dizer ao mesmo tempo tudo o que a Bíblia nos ensina sobre o caráter
dele.
Os atributos chamados “incomunicáveis” têm sua melhor
definição quando dizemos que são os atributos divinos de que menos participamos. Vamos usar então as
duas categorias de atributos, “incomunicáveis” e “comunicáveis”, com plena
consciência porém de que não são classificações absolutamente precisas e de que
existe na realidade muita sobreposição entre elas.
Quais são os atributos incomunicáveis de Deus:
1. Independência.
Deus não precisa de
nós nem do restante da criação para nada; porém, tanto nós quanto o restante da
criação podemos glorificá-lo e dar-lhe alegria. Esse atributo de Deus é às vezes chamado existência
autônoma ou aseidade (das palavras
latinas a se, que significam “de si
mesmo”).
Deus é absolutamente independente e auto-suficiente.
2. Imutabilidade.
Deus é imutável no seu ser, nas suas perfeições, nos seus
propósitos e nas suas promessas; porém, Deus age e sente emoções, e age e sente
de modos diversos diante de situações diferentes. Esse atributo de Deus é
também chamado inalterabilidade.
3. Eternidade.
A eternidade de Deus pode ser definida assim: Deus não tem
princípio nem fim nem sucessão de momentos no seu próprio ser, e percebe todo o
tempo com igual realismo; ele, porém, percebe os acontecimentos no tempo e age
no tempo.
4. Onipresença.
Assim como Deus é ilimitado ou infinito com respeito ao
tempo, também é ilimitado com respeito ao espaço. Essa característica da
natureza de Deus é chamada onipresença divina (o prefixo latino o[m]ni- significa “tudo”). A onipresença
de Deus pode ser assim definida: Deus não
tem tamanho nem dimensões espaciais e está presente em cada ponto do espaço com
todo o seu ser; ele, porém, age de modos diversos em lugares diferentes.
5. Unidade.
A unidade de Deus pode ser definida desta forma: Deus não está dividido em partes; porém
percebemos atributos diversos de Deus enfatizados em momentos diferentes.
Esse atributo de Deus é também denominado simplicidade
divina, empregando simples no
sentido menos comum de “não complexo” ou “não composto de partes”. Mas como a
palavra simples hoje tem o sentido
mais comum de “fácil de compreender” e “simplório ou insensato”, é mais
proveitoso agora falar da “unidade” de Deus em vez da sua “simplicidade”.
2.4-
O Caráter de Deus: Atributos “Comunicáveis”
É como deus se comunica conosco, são
atributos morais, através dos quais Deus comunica determinadas verdades o seu
povo, levando-os, a uma plena identificação com Ele.
1. Espiritualidade.
As pessoas muitas vezes se perguntam do que Deus é feito. A
resposta das Escrituras é que “Deus é espírito” (Jo 4.24). Essa afirmação é
feita por Jesus no contexto de uma discussão com a samaritana ao lado da fonte.
Assim, não devemos pensar que Deus
tem tamanho ou dimensões, mesmo que infinitas (ver a discussão sobre a onipresença
de Deus no capítulo anterior).
2. Invisibilidade.
Ligado à espiritualidade de Deus está o fato de que Deus é
invisível. Porém também precisamos falar das formas visíveis nas quais Deus se
manifesta. A invisibilidade de Deus pode ser definida assim: dizer que Deus tem como atributo a
invisibilidade é dizer que a essência integral de Deus, todo o seu ser
espiritual, jamais poderá ser vista por nós, embora Deus se revele a nós por
meio de coisas visíveis, criadas.
3. Conhecimento (onisciência).
O conhecimento de Deus pode ser definido assim: Deus conhece plenamente a si mesmo e todas
as coisas reais e possíveis num ato simples e eterno.
A definição dada acima explica a onisciência com mais
detalhes. Diz primeiro que Deus conhece plenamente a si mesmo. Trata-se de um
fato espantoso, pois o próprio ser divino é infinito ou ilimitado.
4. Sabedoria.
Dizer que Deus tem
sabedoria significa dizer que ele sempre escolhe as melhores metas e os
melhores meios para alcançar essas metas.
Essa definição vai além da idéia de que Deus conhece todas as coisas, e
especifica que as decisões divinas quanto ao que fará são sempre sábias, ou
seja, sempre trazem os melhores resultados (do ponto de vista absoluto de
Deus), e trazem esses resultados pelos melhores meios possíveis.
5. Veracidade (e fidelidade).
A veracidade divina
implica que ele é o Deus verdadeiro, e que todo o seu conhecimento e todas as
suas palavras são ao mesmo tempo verdadeiros e o parâmetro definitivo da
verdade.
O termo fidedignidade, que significa
“veracidade” ou “confiabilidade”, é às vezes usado como sinônimo da veracidade
divina.
6. Bondade.
A bondade de Deus implica que ele é o parâmetro definitivo do
que é bom, e que tudo o que Deus é e faz é digno de aprovação.
Nessa
definição, vemos uma situação semelhante à que encontramos na definição de Deus
como o Deus verdadeiro. Aqui, “bom” pode ser interpretado como “digno de
aprovação”, mas ainda falta responder à seguinte pergunta: aprovação de quem?
Em certo sentido, podemos dizer que qualquer coisa que seja verdadeiramente boa
deve ser digna da nossa aprovação. Mas num sentido mais absoluto, não somos
livres para decidir por contra própria o que é digno de aprovação e o que não o
é. Em última análise, portanto, o ser e os atos de Deus são perfeitamente
dignos da sua própria aprovação.
7. Amor.
Dizer que Deus tem o amor como atributo é dizer que ele se
doa eternamente aos outros.
Essa
definição interpreta o amor como uma doação de si mesmo em benefício dos
outros. Esse atributo de Deus mostra que faz parte da sua natureza doar-se a
fim de distribuir bênçãos ou o bem aos outros.
João nos
diz que “Deus é amor” (1Jo 4.8). Temos sinais de que esse atributo de Deus já
existia antes da criação entre os membros da Trindade. Jesus fala ao Pai da
“glória que me conferiste, porque me amaste
antes da fundação do mundo” (Jo 17.24), indicando assim que o Pai já amava
e honrava o Filho desde a eternidade. E continua até hoje, pois lemos: “O Pai
ama ao Filho, e todas as coisas tem confiado às suas mãos” (Jo 3.35).
8. Misericórdia, graça, paciência.
A misericórdia, a paciência e a graça divinas podem ser tidas
como três atributos separados ou como aspectos particulares da bondade de Deus.
As definições dadas aqui apresentam esses atributos como casos especiais da
bondade de Deus quando empregada em benefício de categorias específicas de
pessoas.
A misericórdia de
Deus é a bondade divina para com os angustiados e aflitos.
A graça de Deus é a
bondade divina para com os que só merecem castigo.
A paciência de Deus
é a bondade divina no sustar a punição daqueles que persistem no pecado por
determinado tempo.
9. Santidade.
Dizer que Deus tem como atributo a santidade é dizer que ele
é separado do pecado e dedica-se a buscar a sua própria honra. Essa definição
contém ao mesmo tempo uma qualidade relacional (separação de) e uma qualidade
moral (a separação é do pecado ou do mal, e a dedicação é em prol da própria
honra ou glória de Deus). A idéia de santidade, abarcando tanto a separação do
mal quanto a dedicação de Deus à sua própria glória, encontra-se em várias
passagens do Antigo Testamento.
10. Paz (ou ordem).
Em 1Coríntios 14.33, Paulo diz: “Deus não é de confusão, e
sim de paz”. Embora “paz” e “ordem”
não sejam tradicionalmente classificadas como atributos divinos, Paulo aqui
sugere outra qualidade que poderíamos conceber como atributo distinto de Deus.
Paulo diz que os atos de Deus se caracterizam pela “paz” e não pela “desordem”
(gr. akatastasia, palavra que
significa “desordem, confusão, inquietude”).
11. Retidão, justiça.
Em português as palavras retidão
e justiça são duas palavras
distintas, mas tanto no Antigo Testamento hebraico quanto no Novo Testamento
grego, só há uma palavra por trás desses dois termos. (No Antigo Testamento,
esses termos traduzem principalmente as várias formas da palavra tsedek e, no Novo Testamento, as várias
formas da palavra dikaios). Portanto,
consideraremos que esses dois termos designam um único atributo divino.
12. Zelo.
Tem o significado de estar alguém profundamente comprometido
com a busca da honra ou do bem-estar de outrem ou de si mesmo. Diz Paulo aos
coríntios: “Zelo por vós com zelo de Deus” (2Co 11.2). Aqui o sentido é
“empenhado na proteção e na vigília”.
As Escrituras apresentam-nos um Deus zeloso, nesse sentido do
termo. Ele contínua e sinceramente busca proteger a sua própria honra. Ordena
que seu povo não se prostre perante ídolos, nem os sirva, dizendo: “... porque
eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso” (Êx 20.5).
13. Ira.
Talvez nos surpreenda perceber que a Bíblia fala com muita
freqüência da ira de Deus. Porém, se Deus ama tudo o que é certo e bom, e tudo
o que se conforma ao seu caráter moral, então não deve admirar que ele odeie
tudo o que se opõe ao seu caráter moral. A ira de Deus diante do pecado está
portanto intimamente associada à santidade e à justiça de Deus. A ira de Deus
pode ser definida assim: dizer que a ira
é atributo de Deus é dizer que ele odeia intensamente todo o pecado.
14. Vontade.
A vontade de Deus é o atributo por meio do qual ele aprova e
decide executar todo ato necessário para a existência e para a atividade de si
mesmo e de toda a criação.
Essa definição indica que a vontade de Deus tem que ver com a
decisão e com a aprovação das coisas que Deus é e faz. Envolve as escolhas
divinas do que fazer e do que não fazer.
a. A vontade de Deus em geral. As Escrituras
freqüentemente indicam a vontade de Deus como razão definitiva ou absoluta para
qualquer coisa que acontece. Paulo se refere a Deus como aquele “que faz todas
as coisas conforme o conselho da sua
vontade” (Ef 1.11).
b. Distinções nos aspectos da vontade de Deus:
(1) vontade necessária e vontade livre. Algumas distinções já
traçadas no passado podem-nos ajudar a compreender diversos aspectos da vontade
de Deus. Assim como podemos querer ou escolher algo com anseio ou relutância,
com alegria ou arrependimento, em segredo ou publicamente, também Deus, na
infinita grandeza da sua personalidade, é capaz de querer coisas diferentes de
modos diversos.
(2) Vontade secreta e vontade revelada. Outra distinção
proveitosa aplicada aos diferentes aspectos da vontade divina é a que se faz
entre a vontade secreta e a vontade revelada de Deus. Mesmo na nossa
experiência sabemos que somos capazes de desejar algumas coisas secretamente, e
só mais tarde revelar essa vontade aos outros. Às vezes contamos aos outros
antes que a coisa desejada surja ou aconteça; noutras vezes revelamos o segredo
só quando o acontecimento desejado já ocorreu.
15. Liberdade.
A liberdade de Deus é o atributo por meio do qual ele faz o
que lhe apraz. Essa definição implica que nada em toda a criação pode impedir
que Deus execute a sua vontade. Esse atributo de Deus está portanto intimamente
associado à sua vontade e ao seu poder. Mas esse aspecto da liberdade
concentra-se no fato de Deus não se ver cerceado por nada que lhe seja exterior
e de ser ele livre para fazer o que desejar. Não há pessoa ou força que possa
ditar a Deus o que fazer. Ele não está debaixo de nenhuma autoridade nem de
nenhuma limitação exterior.
16. Onipotência (poder, soberania).
A onipotência é o atributo de Deus que lhe permite fazer tudo
o que for da sua santa vontade. A palavra onipotência vem de dois termos
latinos, omni, “todo”, e potens, “poderoso”, significando portanto
“todo-poderoso”. Enquanto a liberdade de Deus se refere ao fato de não haver
constrangimentos exteriores às decisões de Deus, a onipotência divina refere-se
ao seu próprio poder de fazer o que decidir fazer.
17. Perfeição.
A perfeição é o atributo divino que permite que Deus possua
com excelência absolutamente todas as qualidades e não careça de nenhum aspecto
dessas qualidades que lhe seja desejável.
É difícil decidir se isso deve ser tido como atributo isolado
ou simplesmente incluído na descrição dos outros. Algumas passagens dizem que
Deus é “perfeito” ou “completo”. Diz-nos Jesus: “Portanto, sede vós perfeitos
como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt 5.48).
18. Bem-aventurança.
Ser “bem-aventurado” ou “bendito” é ser feliz num sentido
bastante pleno e magnífico. Freqüentemente as Escrituras falam da
bem-aventurança das pessoas que andam nos caminhos de Deus. Em 1Timóteo, porém,
Paulo denomina a Deus “bendito e
único Soberano” (1Tm 6.15) e fala do “evangelho da glória do Deus bendito” (1Tm 1.11). Em ambos os casos a
palavra não é eulogêtos (muitas
vezes traduzida como “bendito”), mas makarios
(que significa “feliz”).
19. Beleza.
A beleza é o atributo divino por meio do qual Deus se revela
a soma de todas as qualidades desejáveis. Esse atributo divino está implícito
em vários dos atributos anteriores e é especialmente associado à perfeição de
Deus. Porém, a perfeição de Deus foi definida de uma forma que mostra que ele
não carece de nada que lhe seria desejável. Este atributo, a beleza, se define
de uma maneira positiva, para mostrar que Deus de fato possui todas as
qualidades desejáveis: “perfeição” significa que Deus não carece de nada
desejável; “beleza” significa que Deus tem tudo o que é desejável. São duas formas
diferentes de declarar a mesma verdade.
20. Glória.
Num dos seus sentidos a palavra glória significa simplesmente “honra” ou “reputação excelente”.
Esse é o significado do termo em Isaías 43.7, em que Deus fala dos seus filhos,
“que criei para minha glória”, ou em Romanos 3.23, que diz que “todos pecaram e
carecem da glória de Deus”. Noutro sentido, a “glória” de Deus significa a
clara luz que circunda a presença de Deus. Como Deus é espírito, e não energia
nem matéria, essa luz visível não faz parte do ser divino, mas é algo criado.
Podemos defini-la assim: a glória de Deus
é o brilho criado que circunda a revelação do próprio Deus.
2.5
- Deus em três Pessoas: A Trindade
Como
Deus pode ser três pessoas, porém um só Deus? Podemos definir a doutrina da
Trindade do seguinte modo: Deus existe eternamente como três
pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo - e cada pessoa é plenamente Deus, e
existe só um Deus.
A
revelação parcial no Antigo Testamento.
A
palavra Trindade não se encontra na Bíblia, embora a idéia representada pela
palavra seja ensinada em muitos trechos. Trindade significa
"tri-unidade" ou "três-em-unidade". É usada para resumir o
ensinamento bíblico de que Deus é três pessoas, porém um só Deus.
Às
vezes se pensa que a doutrina da Trindade se encontra somente no Novo
Testamento, e não no Antigo. Se Deus existe eternamente como três pessoas,
seria surpreendente não encontrar indicações disso no Antigo testamento. Embora
a doutrina da Trindade não se ache explicitamente no Antigo Testamento, várias
passagens dão a entender ou até implicam que Deus existe como mais de uma
pessoa.
Por
exemplo, segundo Gn 1.26, Deus disse: "Façamos o homens à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança". O que significa o verbo
("façamos") e o pronome ("nossa"), ambos na primeira pessoa
do plural? Alguns já afirmaram tratar-se de plurais majestáticos, forma de
falar que um rei usaria ao dizer, por exemplo: "Temos o prazer de
atender-lhe o pedido". Porém, no Antigo Testamento hebraico, não se
encontram outros exemplos em que um monarca use verbos no plural ou pronomes
plurais para referir-se a si mesmo nessa forma de "plural
majestático"; portanto, essa sugestão não tem evidências que a sustentem.
Outra sugestão é que Deus esteja aqui falando com anjos. Mas os anjos não participaram
da criação do homem, nem foi o homem criado à imagem e semelhança de anjos; por
isso a sugestão não é convincente. A melhor explicação é que já nos primeiros
capítulos de Gênesis temos uma indicação da pluralidade de pessoas no próprio
deus. Não sabemos quantas são as pessoas, e nada temos que se aproxime de
uma doutrina completa da Trindade, mas implica-se que há mais de uma pessoa. O
mesmo se pode dizer de Gn 3.22 ("Eis que o homem se tornou como um de nós,
conhecedor do bem e do mal"), Gn 11.7 ("Vinde, desçamos e confundamos
ali a sua linguagem") e Is 6.8 ("A quem enviarei, e quem há de ir por
nós?"). (Repare a combinação de singular e plural na mesma oração na
última passagem.).
A
revelação mais completa da Trindade no Novo Testamento.
Quando
começa o Novo Testamento, entramos na história da vinda do Filho de Deus à
terra. Era de esperar que esse grande acontecimento se fizesse acompanhar de
ensinamentos mais explícitos sobre a natureza trinitária de Deus, e de fato é
isso que encontramos. Antes analisar a questão com pormenores, podemos
simplesmente listar várias passagens em que as três pessoas da Trindade
são mencionadas juntas.
Quando
do batismo de Jesus, " ... e eis que se lhe abriram os céus, e viu o
Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos
céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mt 3.16-17).
Aqui, ao mesmo tempo, temos os três membros da Trindade realizando três ações
distintas. Deus Pai fala de lá do céu; Deus Filho é batizado e depois ouve a
voz de Deus Pai vinda do céu, e o Espírito Santo desse do céu para pousar sobre
Jesus e dar-lhe poder para o seu ministério.
Ao
final do seu ministério terreno, Jesus diz aos discípulos que eles devem ir e
fazer "discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do
Filho e do Espírito Santo" (Mt 28.19). Os próprios nomes "Pai" e
"Filho", baseados na família e mais comum das instituições humanas,
indicam com muita força a distinção das pessoas do Pai e do Filho. E se o
"Espírito Santo" é inserido na mesma frase e no mesmo nível das
outras duas pessoas. difícil é evitar a conclusão de que o Espírito Santo é
também, tido como pessoa e de posição igual ao do Pai e do Filho.
Quando
nos damos conta de que os autores do Novo Testamento geralmente usam o nome
"Deus" (gr. theos) para se referir a Deus Pai e o nome
"Senhor" (gr. Kyrios) para se referir a Deus Filho, fica claro que há
outro termo trinitário em 1 Coríntios 12.4-6 "Ora, há diversidade de dons,
mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o
mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em
todos."
TRÊS
DECLARAÇÕES QUE RESUMEM O ENSINO BÍLICO
Em
certo sentido a doutrina da trindade é um mistério que jamais seremos
capazes de entender plenamente. Podemos, todavia, compreender parte de sua
verdade resumindo o ensinamento da Escrituras em três declarações:
1.
Deus é três pessoas.
2.
Cada pessoa é plenamente Deus.
3.
Há só um Deus
1- Deus
é três pessoas.
O
fato de ser Deus três pessoas significa que o Pai não é o Filho; são pessoas
distintas. Significa também que o Pai não é o Espírito Santo, mas são pessoas
distintas. E significa que o Filho não é o Espírito Santo.
Jo
1.1-2 nos diz: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.". O fato de o
"Verbo" (que se revela Cristo nos v. 9-18) estar "com" Deus
prova que ele é distinto de Deus Pai. Em João17.24, Jesus fala a Deus Pai da
"minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do
mundo", revelando assim distinção de pessoas, compartilhamento de glória e
uma relação de amor entre o Pai e o Filho antes que o mundo fosse criado.
Lemos
que Jesus continua agindo como nosso Sumo Sacerdote e Advogado perante Deus
Pai: "Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e,
se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo."
(1 Jo 2.1). Cristo é aquele que "pode também salvar perfeitamente os que
por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles."(Hb
7.25). Porém, a fim de interceder por nós perante Deus Pai, é necessário que
Cristo seja um pessoa distinta do Pai.
Além
disso, o Pai não é o Espírito, tampouco o Filho é o Espírito Santo.
Distinguem-se em vários versículos. Diz Jesus: "Mas aquele Consolador, o
Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as
coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito" (Jo 14.26). O
Espírito Santo também ora ou "intercede" por nós (Rm 8.27), indicando
uma distinção entre o Espírito Santo e Deus Pai, a quem se faz a intercessão.
Finalmente,
o fato de o Filho não ser o espírito Santo também está indicado em várias
passagens trinitárias mencionadas anteriormente, como a Grande Comissão (Mt
28.19), e em passagens que indicam que Cristo voltou ao céu e então enviou o
Espírito Santo à igreja. Disse Jesus: "Todavia digo-vos a verdade, que vos
convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas,
quando eu for, vo-lo enviarei." (Jo 16.7).
Alguns
já questionaram se o espírito Santo é de fato uma pessoa distinta, e não
simplesmente o "poder" ou a "força" de Deus em ação no
mundo. Mas as evidências do Novo Testamento são bem claras e fortes. Primeiro
há os diversos versículos mencionados acima, em que o Espírito Santo é revelado
em coordenada relação com o Pai e o Filho ( Mt 28.19; 2 Co 12.4-6; 2 Co
13.13ou14; Ef 4.4-6; 1 Pe 1.2): como o Pai e o Filho são ambos pessoas, a
expressão coordenada indica fortemente que o Espírito Santo também é uma
pessoa. Depois há trechos em que o pronome masculino ele(gr. ekeinos) se refere
ao Espírito Santo (Jp 14.26; 15.26; 16.13-14), o que não seria de esperar em
face das regras da gramática grega, pois a palavra "espírito"(gr.
pneuma) é neutra, não masculina, e a ela normalmente se alude com o pronome
neutro ekeino. Além do mais, o nome consolador ou confortador (gr. parakeltos)
é um termo comumente usado para falar de uma pessoa que ajuda ou dá consolo ou
conselho a outra pessoa ou pessoas, mas se refere ao Espírito Santo no
evangelho de João (Jo 14.16, 26; 15.23; 16.7).
Outras
atividades pessoais são atribuídas ao Espírito Santo, como ensinar (Jo
14.26), dar testemunho (Jo 15.26; Rm 8.16), interceder ou orar em nome de
outros (Rm 8.26-27), sondar as profundezas de Deus (1 Co 2.10), conhecer os
pensamentos de Deus (2 Co 2.11), decidir conceder dons para alguns, e
outros para outros (1 Co 12.11), proibir ou não permitir determinadas
atividades (At 16.6-7), falar (At 8.29; 13.2; e muitas vezes no Antigo como no
Novo Testamento), avaliar e aprovar um proceder sábio (At15.28) e se
entristecer diante do pecado dos cristãos (Ef 4.30).
Por
fim, se o Espírito Santo é interpretado meramente como o poder de Deus, e não
como pessoa distinta, então várias passagens simplesmente não fariam sentido,
pois nelas se mencionam tanto o Espírito Santo quanto o seu poder, ou o poder
de Deus. Por exemplo, Lucas 4.14 ("Então, Jesus, no poder, regressou para
Galiléia") significaria então "Jesus, no poder do poder, regressou
para a Galiléia". E atos 10.38 ("Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o
Espírito Santo e com poder") significaria "Deus ungiu a Jesus com o
poder de Deus e com poder" (ver também Rm 15.13; 1 Co 2.4).
Embora
tantas passagens distingam claramente o Espírito Santo dos outros membros da
Trindade, 2 Coríntios 3.17 se revela um versículo desconcertante: "Ora, o
Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.". Os
interpretes muitas vezes supõem que "Senhor" aqui só pode ser Cristo,
pois Paulo usa freqüentemente "Senhor" para referir a Cristo. Mas
provavelmente não é esse o caso aqui, pois a gramática e o contexto nos
fornecem bons argumentos para dizer que esse versículo tem melhor tradução com
o Espírito Santo o sujeito: "Ora, o Espírito é o Senhor ...". Nesse
caso, Paulo estaria dizendo que o Espírito Santo é também
"Jave" (ou "Jeová), o Senhor do Antigo Testamento (repare o
claro pano de fundo do Antigo Testamento que se revela nesse contexto, a partir
do v. 7). Teologicamente, isso seria aceitável, pois sem dúvida se pode dizer
qua assem como Deus Pai é "Senhor" e Deus Filho é "Senhor"
(no pleno sentido de "Senhor" no Antigo Testamento como nome de
Deus), também o Espírito Santo é chamado "Senhor" no Antigo Testamento
- e é o Espírito Santo que nos manifesta especialmente a presença do Senhor na
era da nova aliança.
2.
Cada pessoa é plenamente Deus.
Além
do fato de serem as três pessoas distintas as Escrituras dão farto testemunho
de cada pessoa é plenamente Deus.
Primeiro,
Deus Pai é claramente Deus. Isso se evidencia desde o primeiro versículo
da Bíblia no qual Deus cria o céu e a terra. É evidente em todo o Antigo e Novo
Testamento, no quais Deus Pai é retratado nitidamente como Senhor soberano de
tudo e onde Jesus orar ao seu Pai celeste.
Também,
o Filho é plenamente Deus. Embora esse ponto seja desenvolvido com mais por
menores no capítulo 26 [da Teologia Sistemática deste autor, donde tiramos este
estudo] ("A Pessoa de Cristo"), podemos aqui mencionar de passagem
vários trechos explícitos. João 1.1-4 afirma claramente a plena divindade de
Cristo:
No
princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele
estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele
nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos
homens.
Aqui,
Cristo é o "Verbo", e João diz que ele estava "com Deus" e
também que ele "era Deus". O texto grego repete as palavras iniciais
de Gênesis 1.1 ("No princípio...") e nos lembra de que João
está falando de algo que já era verdade antes que o mundo fosse criado. Deus
Filho sempre foi plenamente Deus.
A
tradução "o Verbo era Deus" foi contestada pelas
testemunhas-de-jeová, que vertem "o Verbo era um deus", implicando
que o Verbo era simplesmente um ser celestial, mas não plenamente divino.
Eles justificam essa tradução salientando que o artigo definido (gr. ho,
"o") não aparece antes da palavra grega theos ("Deus). Dizendo
que theos deve ser traduzido como "um deus". Porém, tal interpretação
nunca foi acatada por nenhum estudioso grego de lugar algum, pois é
sabido que a frase segue uma regra normal da gramática grega, e ausência do
artigo definido indica meramente que "Deus" é o predicado, e não o
sujeito da frase. (Uma publicação recente das testemunhas-de-jeová reconhece
hoje essa relevante gramatical, mas assim mesmo persiste na sua posição a
respeito de João 1.1).
A
incoerência da posição das testemunhas-de-jeová pode ser vista na tradução que
dão ao restante do capítulo. Por diversas outras razões gramaticais, a palavra
theos também dispensa o artigo definido em outros pontos do capítulo, como no
versículo 6 (Houve um homem enviado por Deus"), no versículo 12
("poder de serem feitos filhos de Deus"), no versículo 13 ("mas
de Deus") e no versículo 18 ("Ninguém jamais viu a Deus"). Se as
testemunhas-de-jeová fossem coerentes no seu argumento sobre a ausências do
artigo definido, teriam de traduzir todos esses versículos com a expressão
"um deus",mas usaram "Deus" em todos eles.
João
20.28, no seu contexto, também é uma sólida prova em favor da divindade de
Cristo. Tomé duvidava do relatos dos outros discípulos, de que haviam visto
Jesus ressuscitado, e disse que não acreditaria se não visse as marcas dos
cravos nas mãos de Jesus e não lhe tocasse com a mão na ferida do lado (jo
20.25). Então Jesus apareceu novamente aos discípulos, estando agora Tomé com
eles. Disse a Tomé: "Põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega também a
mão e põe no me lado; não seja incrédulo, mas crente"" (Jo 20.28).
Aqui Tomé chama Jesus de "Deus meu". A narrativa mostra que tanto
João no modo com escreveu o seu evangelho quanto o próprio Jesus aprovam o que
Tomé disse e incentivam todos os que ouvirem falar de Tomé a crer nas mesmas
coisas em que Tomé creu. Jesus imediatamente disse a Tomé: "Porque me
viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram" (Jo 20.29).
Quanto a João, esse é o momento dramático mais forte do evangelho, pois ele
logo a seguir diz ao leitor - já no versículo seguinte - que esta é a razão
pela qual ele o escreveu:
"Jesus,
pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que
não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais
que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu
nome. "(Jo 20.30-31)
Jesus
fala daqueles que, mesmo sem o ver crerão, e João logo diz ao leitor que ele
registrou os acontecimentos no evangelho para que todos também creiam assim,
imitando Tomé na sua confissão de fé. Em outras palavras, todo o evangelho foi
escrito para convencer as pessoas a imitar Tomé, que sinceramente chamou Jesus
de "Senhor meu e Deus meu". Como esse é o motivo exposto por João
como propósito do seu evangelho, a afirmação se reveste de autoridade.
Outras
passagens afirmam a plena divindade de Jesus, como Hebreus 1, onde diz que
Cristo é a "expressão exata" (gr. charakter, "reprodução
exata") da natureza ou ser (gr. hypostasis) de Deus - significando que
Deus Filho reproduzia o ser ou a natureza de Deus Pai em todos os aspectos: todos
os atributos ou poderes que Deus Pai tem, Deus Filho também os tem. O autor
ainda se refere ao Filho como "Deus" no versículo 8 ("Mas acerca
do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre") e atribui a
criação dos céus a Cristo ao dizer dele: "No princípio, Senhor, lançaste
os fundamentos da terra, e os céus são obras das tuas mãos" (Hb 1.10;
citando Sl 102.25). Tito 2.13 refere-se ao "nosso grande Deus e Salvador
Cristo Jesus" e 2 Pedro 1.1 fala da "justiça de nosso Deus e Salvador
Jesus Cristo". Romanos 9.5, falando do povo judeu, diz: "Deles são os
patriarcas, e a partir deles se traça a linhagem humana de Cristo, que é Deus
acima de tudo, bendito para sempre! Amém" (NVI).
No
Antigo Testamento, Isaías 9.6 profetiza:
“Porque
um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e
o principado está sobre os seus ombros, e
se chamará o seu nome: Maravilhoso,
Conselheiro, Deus Forte ...”
Aplicando
a Cristo, essa profecia refere-se a ele como "Deus Forte". Observe
aplicação semelhante dos títulos "Senhor" e "Deus" na
profecias da vinda do Messias em Isaías 40.3: "Preparai o caminho do
Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus", citada por João Batista
na preparação para vinda de Cristo em Mateus 3.3. Como diz Paulo em Colossenses
2.9, "Porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da
Divindade.".
Além
disso, O Espírito Santo é também plenamente Deus. Uma vez que entendemos que
Deus Pai e Deus Filho são plenamente Deus, então as expressões trinitárias em
versículos com Mateus 28.19 ("batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e
do Espírito Santo") se revestem de relevância para a doutrina do Espírito
Santo, pois mostram que o Espírito Santo está classificado no mesmo nível do
Pai e do Filho. Isso se verifica quando percebemos quão impensável seria que
Jesus dissesse algo como "batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
arcanjo Miguel", dando a um ser criado uma posição totalmente descabida,
mesmo para um arcanjo. Os crentes de todas as épocas sempre foram batizados em
nome (assumindo, portanto, o caráter) do próprio Deus. (Note também as outras
passagens trinitárias mencionadas acima: 1 Co 12.4-6; 2 Co 13.14; Ef 4.4-6; 1
Pe 1.2; Jd 20-21.)
Em
atos 5.3-4, Pedro pergunta a Ananias: "Por que encheu Satanás teu coração,
para que mentisses ao Espírito Santo [...]? Não mentiste aos homens, mas a
Deus". Segundo as palavras de Pedro, mentir ao Espírito Santo é mentir a
Deus. Paulo diz em 1 Coríntios 3.16: "Não sabeis que sois santuário de
Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?" O templo de Deus é o local
onde o próprio Deus habita, o que Paulo explica pelo fato de que o
"Espírito de Deus" ali habita, aparentemente igualando o Espírito de
Deus ao próprio Deus.
Davi
pergunta em Salmos 139.7-8: "Para onde me irei do teu Espírito, ou para
onde fugirei da tua presença? Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a
minha cama, eis que tu ali estás também." Essa passagem atribui a
características divina da onipresença ao Espírito Santo, algo que não se aplica
a nenhuma das criaturas de Deus. Parece que Davi faz equivaler o Espírito de
Deus à presença de Deus. Ausentar-se do Espírito de Deus é ausentar-se da sua
presença, mas se não há lugar para onde Davi pode fugir do Espírito de Deus,
então ele sabe que aonde quer que vá terá de dizer: "Tu estás aí".
Paulo
atribui a característica divina da onisciência ao Espírito Santo em 1 Coríntios
2.10-11: "Porque Deus no-las revelou pelo seu Espírito; pois o Espírito
esquadrinha todas as coisas, mesmos as profundezas de Deus. Pois, qual dos
homens entende as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está?
assim também as coisas de Deus [ou os pensamentos de Deus], ninguém as conhece,
senão o Espírito de Deus.".
Além
disso, o ato de dar novo nascimento a todo aquele que nasce de novo é obra do
Espírito Santo. Disse Jesus:"... quem não nascer da água e do Espírito não
pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é
nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos
nascer de novo" (Jo 3.5-7). Mas o ato de dar nova vida espiritual às pessoas
quando se tornam cristãs é algo que só Deus pode fazer (cf. 1 Jo 3.9,
"nascido de Deus"). Essa passagem portanto dá nova indicação de que o
Espírito Santo é plenamente Deus.
Até
aqui temos duas conclusões, ambas fartamente ensinadas em toda a Bíblia:
1.Deus
é três pessoas.
2. Cada pessoa é plenamente Deus: Se a Bíblia ensinasse somente esses dois fatos, não haveria nenhuma dificuldade lógica em emparelhá-los, pois a solução óbvia seria que existem três Deuses. O Pai é plenamente Deus, o Filho é plenamente Deus e o Espírito santo é também plenamente Deus.Teríamos um sistema com três seres igualmente divinos. Tal crença se chamaria politeísmo - ou, mais especificamente, "triteísmo", ou crença em três Deuses. Mas isso passa bem longe do que ensina a Bíblia.
2. Cada pessoa é plenamente Deus: Se a Bíblia ensinasse somente esses dois fatos, não haveria nenhuma dificuldade lógica em emparelhá-los, pois a solução óbvia seria que existem três Deuses. O Pai é plenamente Deus, o Filho é plenamente Deus e o Espírito santo é também plenamente Deus.Teríamos um sistema com três seres igualmente divinos. Tal crença se chamaria politeísmo - ou, mais especificamente, "triteísmo", ou crença em três Deuses. Mas isso passa bem longe do que ensina a Bíblia.
3. Só há um Deus: As
Escrituras deixam bem claro que só existe um único Deus. As três diferentes
pessoas da Trindade são um não apenas em propósito e em concordância no que
pensam, mas um em essência, um na sua natureza essencial. Em outras palavras,
Deus é um só ser. Não existem três Deuses. Só existe um Deus.
Uma
das passagens mais conhecidas do Antigo Testamento é Deuteronômio 6.4-5:
"Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o
Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas
forças."
“Ó
Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em
santidade,
admirável em louvores, realizando maravilhas?” (Ex 15.11), a resposta obviamente é: ninguém. Deus é único, e não há ninguém como ele nem pode haver ninguém como ele. De fato, Salomão ora "para que todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus, e que não há outro." (1 Rs 8.60).
admirável em louvores, realizando maravilhas?” (Ex 15.11), a resposta obviamente é: ninguém. Deus é único, e não há ninguém como ele nem pode haver ninguém como ele. De fato, Salomão ora "para que todos os povos da terra saibam que o Senhor é Deus, e que não há outro." (1 Rs 8.60).
Quando
Deus fala, repetidamente deixa claro que ele é o único Deus verdadeiro; a idéia
de que existem três Deuses a adorar, e não um só, seria impensável diante de
declarações tão veementes. Só Deus é o únicos Deus verdadeiro, e não há nenhum
outro como ele. Quando ele fala, só ele fala - não fala como um Deus
dentre três que devem ser adorados. Mas diz:
Eu
sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda
que tu não me conheças;
Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. (Is 45.5-6).
Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. (Is 45.5-6).
Do
mesmo modo, ele convoca toda a terra a olhar para ele:
“Não
há outro Deus, senão eu, Deus justo e Salvador não há além de mim. Olhai para
mim e Sede salvos, vós, todos os limites da terra;porque eu sou Deus, e não há
outro “(Is 45.21-22; cf. 44.6-8).
O
Novo Testamento também afirma que só há um Deus. Escreva Paulo: "Porque há
um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem."
(1 Tm 2.5). Paulo afirma que "Deus é um só" (Rm 3.30) e que "há
um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos" (1
Co 8.6). Por fim, Tiago admite que até os demônios reconhecem que só há um
Deus, ainda que essa aceitação intelectual do fato não seja suficiente para
salvá-los: "Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o
crêem, e estremecem." (Tg 2.19). Mas nitidamente Tiago afirma que
"faz bem" quem crê que "Deus é um só".
Analogias tem falhas
As
pessoas já usaram várias analogias retiradas da natureza ou da experiência
humana para tentar explicar essa doutrina. Embora tais analogia sejam úteis num
nível elementar de compreensão, todas elas se revelam inadequadas ou ilusórias
numa reflexão mais aprofundada. Dizer, por exemplo,que Deus é como um trevo de
três folhas, que mesmo tendo três partes é apenas um trevo, não é satisfatório,
pois cada folha apenas faz parte do trevo, e não se pode dizer que nenhuma das
folhas é todo o trevo. Mas na Trindade, cada uma das pessoas não é apenas uma
parte separada de Deus, mas plenamente Deus. Além disso, a folha de um trevo é
impessoal e não tem portanto personalidade distinta e complexa como cada pessoa
da Trindade.
Outros
já usaram a analogia das três partes de uma árvore: raiz, tronco e ramos
constituem uma só arvore. Mas surge um problema semelhante, pois trata-se
somente de partes de uma árvore, e não se pode dizer que nenhuma dessas partes
é a árvore inteira. Além do mais, nessa analogia as partes têm propriedade
distintas, diferentemente das pessoas da Trindade, que possuem todos os
atributos de Deus em igual medida. E a ausência de personalidade em cada uma
das partes é outra deficiência.
A
analogia das três formas de água (vapor, água e gelo) é também inadequada,
porque: (a) nenhuma quantidade de água jamais é ao mesmo tempo todas as três
formas, (b) as três formas têm propriedades ou características diferentes, (c)
a analogia nada tem que corresponda ao fato de existir somente um Deus (mas
existe algo como "uma só água" ou "toda a água do
universo") e (d) falta o elemento da personalidade inteligente.
Outras
analogias foram derivadas da experiência humana. Poder-se-ia dizer que a
Trindade é como um homem que é ao mesmo tempo fazendeiro, prefeito da sua
cidade e presbítero da sua igreja. Ele desempenha papéis diferentes em momentos
distintos, mas é um só homem. Porém, essa analogia é bastante falha, pois só
uma pessoa executa essas três atividades em momento diferentes, e o modalismo
não contempla a relação pessoal entre os membros da Trindade. (Na verdade, essa
analogia simples ensina a heresia chamada modalismo, discutida abaixo.)
Outras
analogia retirada da vida humana é a união entre intelecto, emoções e vontade
numa pessoa. Embora sejam componentes de uma personalidade, nenhum desses
fatores constitui a pessoa inteira. E as partes não são de características
idênticas, mas têm capacidades distintas.
Então
que analogia usaremos para explicar a Trindade? Embora a Bíblia use muitas
analogias derivadas da natureza e da vida para nos ensinar aspectos diversos do
caráter de Deus (Deus é como uma rocha na sua fidelidade, como um pastor no seu
cuidado, etc.), é interessante notar que nenhum trecho das Escrituras se acha
alguma analogia que explique a doutrina da Trindade. O mais próximo que
chegamos de uma analogia se encontra nos próprios títulos "Pai" e
"Filho", títulos que nitidamente dizem respeito a pessoas distintas e
à íntima relação que existe entre os dois numa família. Mas no plano humano,
logicamente, temos dois seres totalmente distintos, nenhum deles formado de
três pessoas distintas. É melhor concluir que nenhuma analogia explica
adequadamente a Trindade, que todas são ilusórias em aspectos importantes.